segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Como uma música fora de tom os corpos entrelaçados uma mão maior ainda partes de um todo que há muito esquecia julguei probabilidades e tampouco fiz versos não esperei momento algum essas coisas só acontecem um dia a gente acorda e tem uma lua lá fora não é verão não é inverno ela só está lá e o tempo de espera não importa mais aos sentidos e as mãos continuam entrelaçadas você só aguarda o próximo suspiro e de repente, vem.

sábado, 26 de abril de 2008

Então ele corre repentinamente, e eu não consigo explicar. “Mas está tudo aqui, tudo que você pediu!”. Ai faz muito frio, grito “PAI!”, mas ele não volta. Nem volta, nem se volta. E eu fico perdida, juntando aquele monte de tralha do chão, me perguntando como cheguei até aquele momento. Novamente, não posso explicar. Timing é um bem precioso, e eu nunca tive o meu.

De repente, algo em mim lhe chama atenção e ele me olha. “Que estranho, vai embora, agora chega.”. Sem muito motivo, ou todos eles, as palavras me faltam. Os olhos azuis me analisam, será que mereces compaixão, Carne Minha? Assim, como que subitamente, eles decidem que não.

Alguns anos se passam e eu apodreci nas tralhas. Remoendo mil questões, como “Por que diabos trouxe comigo flores, tamanhas coisas efêmeras?”. Meus punhos se fecham e no horizonte vejo o pai que retorna. Ele não está só. Traz consigo uma linda menininha, um algo completamente divino. Eu espero, desconfio, mas dos meus olhos correm lágrimas, e já não posso conter. Ele vem, deixa a menina e ela salva a minha vida. Porque,quando ele partiu, algo em mim morreu. Algo em mim, destroçado mim, ficou vazio, incompleto. Pra sempre, ele seria(é) o cara que partiu, o cara que não segurou a minha mão nos dias de tempestade, o cara que me abandonou no altar, o cara que me traiu, o cara que me deixou só, cuidando de duas filhas.

Ela, e somente ela, me trouxe a luz de uma infância que tive, mas não vivi. Não vivi porque era oca, marginal, embora ostentasse o sorriso infantil. À ela, minha menininha, eu só posso agradecer.
“Com todo amor,

Luiza.”

Agora, passo por um processo previamente bem-sucedido de beatificação. É sagrado o louvor que tenho pelas minhas tralhas, elas não são tralhas. São pedaços de pano, são cobras na estrada, são casas floridas, são promessas, são sonhos, são ele, somos nós, sou eu. eusoueusoueusoueusoueusoueusoueusoueusouseu

E sempre mais.

Pode me jogar da janela, pai. Eu vôo.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Buana.

Não quero mais esse sorriso seu dirigido a qualquer uma; seu negócio agora é monogamia. Isso tudo é pra te prender em coleira sim, eu sei que você odeia, mas vai te fazer bem. Vem que eu te faço sólido, concreto. Vem que você esperou muito tempo pra se realizar em mim; sou sua resolução de ano novo, pode admitir. Não passa dessa porta sem me tocar, cê sabe que eu detesto isso. Que história é essa de correr pra baixo, de subir pra cima? Desnecessário. Sou toda e muito mais confusão do que você possa imaginar. E que credo essa sua atitude, deixa de ser trouxa, rotatividade é coisa de moleque. É pro castigo que você vai, com direto a orelha de burro, cara na parede e pau na mão. Depois cê volta, senta aqui e me prepara um chá, que esse tempo te consertando não foi moleza.

sábado, 19 de abril de 2008

Um instante, preciso matar alguém:


Vou escutar melancolia a cada vez que ela passar por essa porta; somos três objetos perdidos no meio de um antiquário.
Vou jogar pra cima todas as emoções, gritar palavrões, entender muito pouco; quase nada.
Vou quebrar o espaço, invadir os círculos, sujar a perfeição. Eu te quero exatamente como você é: nojo.
Vou bater na sua cara, te chamar de cínica, de falsa, de hipócrita, de vá embora.
Vou sentir saudade e ciúme também.
Vou me envolver, deixar o corpo me conduzir a mais um fragmento de minha tragédia grega de bolso.
Vou mascarar, manter seu gosto, procurar em mim descanso pra ti.
Vou olhar serena, lembrar de mim, reconhecer-me e te deixar.
Vou gritar bem alto, pois assim deve ser: foi como eu escolhi.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Areia, areia, areia. E tanta areia. Nos mil flocos ela caminhava, tentava explicar-lhe o sentido de tudo aquilo. Raras vezes ela o via como um simples mortal; normalmente, ele era sexo. Tudo nele, sensual nele, um corte inspirador, um par de pernas, suaves, leves, decididas. Elas sim sabiam pra onde iriam. “Mexendo com as coisas, deparei-me com você”, ela dizia, “ Mas e quanto a mim, recém saída da sala de cirurgia?”.
Quase fazia frio e era forte o cheiro de mijo. Começou, então, com muito barulho; silêncio mesmo só o dela. Era noite e ela adorava costas. Ele de costas. E o papo, que papo. Mão na nuca, beijo na nuca. Comentários, olhares, ajoelha aqui. Aquilo iria longe demais.

- Falei mil vezes sobre você, coloquei você pra fora, vomitei. Isso tudo porque tesão não dá pra guardar, não esse que eu sinto por você. Eu reviraria essas dunas contigo, mas não teria graça alguma. Entende, pra mim, seria mais do que sexo, seria uma experiência. Pra você, no entanto, pouco menos do que nada. Cê é moço ainda.

Epifania.

Os olhos brilham, as cores entorpecem, os dias não acabam. E que engraçado é escrever qualquer coisa pra você. Pois todos eles são pra você, todos mesmo. Pra você, sobre você, com você. E eu não me importo, pode chorar, pode rir, pode achar isso tudo tão ridículo. Pode achar desnecessário, pode reclamar, pode achar que não vale a pena. Por você, e somente por você, eu agüento. Essa sua falta de bom-humor comigo é compreensível, te decepcionei tanto. Mas eu sei que você ainda vai me agradecer, seremos uma, uníssono, imortais. Você vai ver...



Hoje eu te vi, f oi difícil, mas eu te vi. Era no meio de um milhão de rostos que você se escondia, me perdoa por não ter te achado antes? E o medo que eu tinha de você se vestir sem as cores do dia, suas cores? Talvez você estivesse sempre ali. Vê-la antes, porém, seria humanamente impossível.
Mas você estava ali, e não era feia, e era multicor. Se destacava, que surpresa, eu não sabia! Sinto muito se um dia duvidei, eu não sabia o que fazia. Abraçava os pés no alto, parecia alegre, e os cachos realmente lhe caiam bem. Sempre me falaram de placas e pessoas que se vendiam, de mil maneiras, e também das pessoas que as compravam. Pois você não estava ali pra ser vendida, você não parecia querer ir a lugar algum. Estava só ali, o que faria depois somente a você importava.

Eu te vi e você estava prestes a se sentir muito bem.

quinta-feira, 13 de março de 2008

“Ela se vinga com o monólogo” - Flaubert.

Então,

Ela se vinga com monólogos, não teme interlocutores. Cresceu jovem, adoeceu madura. Mas o que aconteceu? Foi a dor dos tempos escuros, tão claustrofóbicos quanto os sorrisos vagos de hoje. E que cansaço dá viver tão insegura. Não deveria ser permitido viver carregando lembranças com tamanho peso, ao menos sapatos mais confortáveis devessem ter sido recomendados. Sim, porque é assim que fazemos. Isso tudo, mas de salto alto. E quanta vida pra julgar, quantos amores a perder.
Agora começo a soar repetitiva. Contudo, pretendo falar. Pois por mais solitários que esses monólogos possam parecer, há alguém ouvindo. Eu mesma. Exatamente a pessoa de quem quero me vingar.

A mulher muito pouco iludida ( Beauvoir, te dedico)

Não gostava das mentiras, das desonestidades, dos argumentos, das meias-palavras. Ela era sincera, extremamente sincera. Uma felina, raivosa, leoa, gata. Tão assustava, quanto encantava. Pois é do que havia de mais assustador que irei falar.
Capaz das maiores incoerências, ela, usualmente, chegava explodindo. Explodia a porta, a louça, o armário, as roupas no chão. E como gritava, fazia voar os tênis, as panelas sujas. Quando chorava, era pior. Porque o choro dela corta o nosso coração, provoca traumas. Mas o mais difícil era segurar sua mão e dizer que tudo ficaria bem, nunca entendi se esse era mesmo o nosso papel. E que tristeza era vê-la tão desiludida assim. Principalmente porque ela mesma havia nos ensinado sobre as desilusões e suas verdades. Embora tenhamos acreditado piamente em suas palavras, seguindo as devidas proporções etárias de compreensão, sabíamos, as duas, que era uma bela dose de ilusão que nos mantinha vivas e unidas. Agora é da parte encantadora que irei falar.
Como mulheres, vivemos e nos unimos à sombra das várias ilusões. A ilusão de sermos compreendidas, correspondidas e retribuídas, por exemplo. Realmente importante é podar com doses homeopáticas de verdades algumas dessas ilusões. A ilusão de sermos compreendidas, correspondidas e retribuídas, por exemplo. Como seres humanos, temos que entender sobre a não-reciprocidade de um zilhão de sentimentos. Infelizmente, somos todos egoístas, não-dispostos, dotados de uma incrível capacidade de não darmos a mínima ao que se encontra fora dos limites de nossa própria carne. Sei ,também, que acreditar numa pessoa verdadeiramente altruísta vai ser difícil pra vocês, mas isso é só porque vocês não a conhecem. A felina, a gata raivosa, leoa, ela vive pros outros, ela vive. Dona não só do melhor humor que conheço, como da maior criatividade. E,não querendo desmerecer aqueles que possam pensar “Será que ela vive pra mim também?”, não. Ela vive por nós, todos nós, e mais ninguém. E isso, meus caros, é algo realmente admirável.
Desiludida, então, ela segue, mantendo sempre a ilusão de nós, de todos nós. Só espero poder correspondê-la, pois se há uma coisa que eu gosto é de fazer a minha leoazinha feliz.


“- Sim, Monique. Há uma mulher em minha vida”.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Um dos raros lugares em que me sinto realmente confortável é na minha obsessão. Os acessos de loucura, a busca pelo ar, o pânico, a paranóia, o desespero. Sei exatamente como ela começa, como ela segue e, principalmente, como ela termina. Eu escolho o meu drama , eu escolho.
Entenda, uma coisa que sempre me importou (bastante!) foi o desejo do controle do que se segue, saber os passos que irei dar, ter certeza da próxima cena que verei. Como é de se imaginar, essa tal coisa importante também é fruto de enorme frustração. Por viver tentando agarrar com força o futuro e fazê-lo engolir minhas aspirações, acabo forçando situações e negligenciando as pequenas decisões. Essas sim eu posso controlar. Mas eu não sou assim, não busco o prazer imediato, quero o amanhã. Exatamente por isso, não controlo porra nenhuma, nem o antes, nem o agora e, muito menos, o depois. Eu não controlo nada.
De qualquer forma, agarrar-me ao meu raro momento maniqueísta, aquele em que eu mesma me puno, porque se há uma coisa que eu sei fazer, e faço bem, é enxer o meu saco, aquele em que eu fico obcecada, é simplesmente a maior burrice da minha vida. Esse lugarzinho confortável me consome como droga, não estou brincando. E eu, sinceramente, estou começando a ficar cansada de me amolar.

Enfim, como podem ver, estou dando um senhor trabalho ao meu psicoterapeuta...