quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Encontros

Quem quer, sabe me encontrar.

Não é tão difícil, eu não me mexo muito.

Só parece, mas eu sigo por aqui. E vou seguindo.

Talvez essa seja a questão. Vocês todos, se mexendo.

E eu sigo.

Vocês mudam, passam, esquecem.

Eu não faço isso.

Também não faço outras coisas.

Não me recordo, não me enraizo, não volto atrás.

Eu só fico. Aqui.

É bom aqui.

Adulta

Meu pai morrendo no hospital, completamente frágil, totalmente fraco, francamente desequilibrado.

Pede um banho. Eu dou. 

Dou apoio, entrego o sabonete.

Evito olhar demais.

Desligamos a água e ele sai do boxe.

"Pega a toalha, me enxuga", eu enxugo.

Com o pano, esfrego sua cabeça, seus braços, suas pernas. 

A bunda.


Minha mãe, vinte anos depois de tudo. Me chama para jantar.

Saímos para um restaurante, eu, ela, minha irmã, nossos filhos.

Na mesa, também está sua melhor amiga.

Muito amigas, de longa data, minha mãe e ela dividiram de tudo.

Segredos, lembranças, amores, pecados, tristezas, linhas de pó. Muitas linhas.

A amiga pede cerveja. Só para ela, minha mãe há muito está sóbria.

"E você? Quer um copo?", eu bebo.

Sem medo.


Limpo bunda. Sem medo.

Bebo cerveja. Sem medo. 

Acho que isso é ser adulta.