segunda-feira, 29 de outubro de 2007

São três dedos no queixo, dois na cintura e quatro de vodka. Mas dessa maneira não funciona para mim. Faço parte do seleto grupo de desavisados que resolveram encarar a vida de alma limpa. Sem atenuantes, sem nada. E, por mais doloroso que seja andar por ai com a cara lavada, não há desejo algum que pague o autocontrole. Os olhares febris são notados com a rapidez de segundos. Não trocaria isso por nada.
Seria prudente avisar-lhe que o seu cheiro anda preenchendo meu útero com um vazio intenso. Chama-me para um monólogo inspirador. Cabe uma nota: monólogos me cansam.
Dialoguemos,então.

domingo, 28 de outubro de 2007

Tudo isso pode não estar fazendo sentido nenhum pra vocês. Espasmos convulsivos da alma.

Sem problemas.Não faz pra mim também.
Agarrada em prantos, vejo-me mais uma vez só. A cura da alma só vem com o entardecer e com os prantos da criança. Hay muito que chorar.
O que importa é esse fogo que arde! Não é desses fogos que se anuncia em praça (talvez devesse ser), mas é intenso e vermelho. É vermelho como sempre deveria ter sido. E não me interesso muito quanto aos fins que tal fogo tomará, ou até onde irá me levar. O caminho por vezes me parece absurdo e infantil. Mas há o fogo, e não se deve negar ao fogo! Sobretudo, temê-lo.Ainda mais se ele é vermelho. Ninguém rejeita a cor sagrada. Renovo-me.
Dizem que o escritor traduz a alma.Eu não traduzo nada.Eu não sei ler.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Alterego, superego, big-ego? Rêgo.
Deixe-me explicar uma coisa:

Na minha imaginação, se há um muro, será vermelho, se há um cão, será velho, se há um pai, será astuto, se há uma mãe, será carente, se há uma irmã, será amorosa, ,se há amigos,serão distantes,se há um eu, serei corrupta.


Feio, né?! Freio.

Rest in pieces.

Vai me desculpar, amigo, mas o meu maior mal é você. E não adianta me perseguir com risinhos porque de gestos agradáveis até o Reich esteve cheio. Ninguém explica você, amigo. O senhor é inquestionável, indecifrável, inescrupuloso e indeciso. “Inconstantemente”, porém, vossa excelência vem dar por aqui. Pois se é dando que se recebe, dou-te agora o maior de todos os meus presentes: R.I.P-aqui jaz tu. E chega de churumelas porque morto não fala.
Falando sinceramente, há uma parte considerável de mim não agüentando mais. Diferente do que outras pessoas possam pensar, porém, fadiga nunca foi meu mal. Solidão?! Puf, também não. O meu problema é aquele muro ali, pintado ridiculamente de vermelho, e o velho cachorro que deita à sua sombra também. Cachorro idiota, idiota, idiota, cachorro velho! O muro e o cachorro idiota vão me enlouquecer. O muro porque é ridículo, o cachorro porque é idiota. IDIOTAS.
As mãos ousadas tremem ao segurar o copo, o olhar firme pestaneja a qualquer sinal de mudança, a dura água vem em blocos pela garganta, o silêncio desce seco, ensurdecedor. As portas batem, indicando guerra. Prenúncios da madeira, já tão cansada de discussões travar. Um escape, uma corrida, um banho.
-Ei, você viu o meu jornal?!

domingo, 21 de outubro de 2007

Ê,caralho.

Uma breve explicação a quem possa não entender:

Os textos são curtos e sem grandes divagações porque assim é o mais orgânico dos meus pensamentos: meu pensamento criativo. Amigos e parentes provavelmente vão entender a rapidez do discurso, já que nas conversas da vida, sou exatamente assim. Pensamento desordenado, confusão de foco, enfim, saio falando mil besteiras no menor intervalo de tempo possível.Sinto-me no direito de escrever da maneira que mais me conforta (até porque, se não fosse assim, eu nunca nem escreveria), sem pensar na nossa interpretação.Sua, minha. Sem mais delongas, bem-vindos à minha gonorréia verbal.
Desde pequena, tinha um medo enorme de vir a ser uma mulher submissa. Possuo quase todos os sintomas, sabe?! O medo de ser maria(com letra minúscula!) era tão grande, que passei a torcer o nariz pra qualquer demonstração de companheirismo entre homens e mulheres. A paranóia mesmo era com a anulação; há tanta maria anulando-se por um qualquer joão. Lavando louça, tirando pó, criando filho, pra eles, pra eles, pra ele. Posso até ter sido muito radical em meus pensamentos, mas o papel de boneca inflável não estava no meu sketch. Acontece que um dia compreendi (com ajuda da minha mãe) que a fuga dos erros, a fuga dos encontrões, também é uma grande anulação. Devendo erros para a Luiza que vem, decidi, então, seguir, invariavelmente, com a fé de que um dia, possivelmente, a gente cansa de se dar.
o vento entra estourando pela janela da cozinha pinta a geladeira de vermelho apaga a luz da moça joga farinha pra cima lança-se de cabeça pra baixo fecha o forno aquece o pão reclama da vida bebe toda a cerveja culpa a mãe suja o piso não lava a louça sai com pressa vai ventaniar.

Crescei e multiplicai-vos

m
mu
multi
multipli
multiplica
multiplicai-vos multi
plicai-vos multiplicai-vos vos-multiplica multipli-vos-cai vai vai vai
plicai-vos multiplicai-vos vos-multiplica multipli-vos-cai vai vai vai
multiplicai-vos multi
multiplica
multipli
multi
mu
m

sábado, 20 de outubro de 2007

Cérebro...cérebro?! Melhor não tê-lo. Mas se não o temos, como sabê-lo?! Se não o tivéssemos quanta angustia deixaríamos de ter, quanto desespero. As horas ponderando e preocupando-se quanto a questões sócio-econômico-político-individuais se desviariam. As tardes preenchidas com tanto som e tanta cor, fazendo com que pouco ou quase nenhum sono se sobressaia. A obrigação da palavra certa, o desespero em frente ao descaso, a indignação com a ignorância.Ah, a ignorância! Ah, as horas de sono! As pilhas de livro, as capas soltas, os cds para limpar, as conversas “cabeça”, a lapiseira na mão. Cérebro?! Melhor não tê-lo. Mas se não o temos, como sabê-lo?!
Em cada esquina da minha cidade há um poster do Belo berrando:" Foge,menina! Foge enquanto ainda dá tempo!".
Por ser uma pessoa realmente dramática, meu grande sonho sempre foi que minha vida fosse quase uma peça teatral. Se tudo tivesse dado certo, minha mãe teria me vestido de homem e me violentetado durante toda minha infância, distorcendo e deturpando a minha mente. Já adulta, seria completamente doentia, pan-sexual, perigosa. Lá pelas tantas cometeria um crime de alto grau de crueldade, deixando toda a sociedade perplexa. Canibalismo, talvez.

Mas tudo deu errado e é por isso mesmo que eu tenho que me levantar educadamente, tomar banho e servir um café pra mãe.
A grande mãe da gente é ,de fato, a vida. Às vezes a gente acorda de mau-humor e a mãezona coloca uma lourinha de chupetão rosa na boca bem no caminho ao cárcere.
Vale ressaltar: melhor seria se, ao invés de reduzir os gastos com saúde pública, Margareth Thatcher tivesse estimulado a redução do uso excessivo de laquê e batom rouge.

Alô, Faustão.

A República do Azerbaijão localiza-se no Cáucaso, uma região bem tranquila, sem conflitos, sem nada. Faz fronteira com o Irã, com a Armênia e com a Rússia. Em dias de calor, o que seriam aproximadamente 20 graus celsius, a população do Azerbaijão não tem água pra se refrescar, nem campos frescos para visitar. O Azerbaijão é encoberto por um solo tóxico, poluído por fertilizantes nocivos que alguma corporação inescrupulosa se atreveu a espalhar. O lixo tóxico contamina não só o solo, mas também a água. Mais da metade da população não é servida por redes de esgoto.Assim, muitos azerbaijões morrem cedo, bem cedo.

Pois é pro Azerbaijão que eu venho mandando meus domingos e todos os programas de rede aberta que vem com ele!
A MINHA AVÓ FALOU QUE A GENTE ESCREVE PRA SER ADMIRADO.

eu concordo.
Sou uma dessas pessoas que dormem com edredom e ventilador ligado em pleno calor de Janeiro.Sou uma dessas garotas que morrem de vontade de ser vaidosa, mas que sabem o quando a vaidade não lhe cai bem. Sou uma dessas alunas que constroem uma relação de respeito e confiança com todos os professores, sem exceção. Sou uma dessas filhas que ouvem e acreditam em grande parte dos conselhos dos pais. Sou uma dessas amigas que quase nunca vão se fazer compreender. Sou uma dessas vizinhas que sorri feliz no elevador de manhã, que acaricia os cachorros e que se encanta com os bebês. Sou uma dessas clientes que , só pra ser educada, vê arara por arara, sem ter coragem de vomitar no azul-roial.

É mais ou menos assim que eu sou. Retrato recatado de todos os personagens que um dia quis criar pra mim.
Há um enorme mar de solidão entre o sofá da minha sala e a mesa de estudos.É um mar difícil de atravessar, quase inavegável. Quando batem as duas horas, me levanto vagarosamente, sem alarmar as criaturas terríveis que me vigiam no sofá. O caminho até a mesa é incerto, molhado, desprezível.De repente, sinto mil mãos me puxando de volta pro sofá.São as criaturas. Me debato, esperneio e grito “Na minha vida quem manda sou eu!”.

Depois dizem que vestibular é Carnaval.Que nada! Vestibular é filme de terror.

Cidade Sol.

Eu considero as ruas de Vitória auto-fágicas. Elas mesmas se desfazem, elas mesmas se desprezam. Andar por elas é sentir na alma a repulsa, a vontade de te mandar pra fora, de enviar para a vida. Devem morrer de ciúmes da praia, devem ter ciúmes dos morros, devem ter ciúmes dos parques. Diz o ditado popular que o ciúme corrói a alma.Eu digo que o ciúme anda corroendo as ruas de Vitória.
Outro dia meu pai veio aqui e eu não senti nada. As garotas, quando o pai vem, geralmente sentem palpitações, emoções, felicidades explodirem em seus corações.Dessa vez meu pai veio e eu não senti nada.Minha mãe já tinha me contado que, ao crescer, o mito do pai-herói vai se desfazendo. A gente perde a imagem, mas fica com o homem. O homem e todas as suas fraquezas. Na época, esqueci de falar pra minha mãe que eu não sou muito chegada no homem. Nas fraquezas, nos erros, nas meias palavras, nas palavras meias. Queria poder recolocar a fantasia de super-homem no meu pai, queria empurra-lo da varanda pra ver se voa. Talvez eu tenha que aprender a amar o homem por trás do símbolo. Mas como amar o homem se eu mesma me fiz no símbolo?! E se matar o herói, morre o símbolo,meu amor pelo homem e eu junto?! Enfim, auto-conhecimento é uma merda.

Turns off: Paris em dia de chuva.

Se há uma coisa que eu não entendo é a admiração das pessoas por Paris. Paris é cinza, é cosmopolita, não tem tulipas.Tá bom, eu sei, tem tulipas nas Tulleries.Mas onde já se viu tulipas cinzas?! Eu culpo o tempo pela minha antipatia por Paris.Quando visitei a Cidade Luz, ela andava nublada, sem nenhum raio de sol pra iluminar tulipas, vestidos vermelhos e boulangeries. Os casais franceses que em dias de sol saem para andar de bicicleta juntinhos bem apertados, as crianças com balões vermelhos em punho, os turistas praticando esgrima com baguettes, nada.Ninguém saiu de casa quando visitei Paris.Então é isso, não gosto de Paris porque,quando chove, Paris se esconde. Paris se esconde e se esconde sim.Vai ver é isso....Paris é que não gosta de mim.

Shhhhhhhh, aqui jaz a obra de Dali.

Dos lugares engraçados que passei durante minha breve vida, o Museu Dali foi o mais marcante. No museu não falta surrealismo,revolução,imaginação, subjetividade, unicórnios derretendo corações com o chifre, rabiscos antigos, cadeiras retorcidas, peças cheias de falta de sentido.Mas o mais engraçado do Museu Dali é que lá a gente não pode não fazer silêncio,não pode olhar de perto,não pode expressar sensações,não pode fitar a obra por muito tempo, não pode rir.Enfim, tudo bem Dali.
Em Salvador a gente anda no Pelourinho.Pé lourinho.Lorenço.Lá as ruas são feitas de pedras, pedras que tiram lascas dos nossos dedos.Então a gente caminha.E vai perdendo os dedos.E é cheio de gringos! E os gringos são bem bonitos.Então a gente caminha, perde os dedos e deixa o coração.Mas a frente tem baianas.As baianas são muito bonitas e muito simpáticas também.É com elas que a gente deixa o estômago.No Pelourinho se ouve samba, se vê axé, se apaixona, se perdem os dedos, se deixa o estômago. Mal posso esperar o dia de ir lá pelar.
Tem barba na cara do cara.E tem sorriso também, engraçado.Pensei que os barbados não rissem.Sei lá, deve ser a barba. Barba esconde bochecha, esconde dente, esconde sorriso. A barba dele é rala, disforme.Mas tem sorriso! E que sorriso. Gostaria de ver esse sorriso ao vivo. Olha, quando eu vi a barba ralando na pele, juro, quis muito ser a pele. Mas pra ser pele, eu teria que abdicar da barba.Ah,isso eu não quero! Eu quero a barba e todas as pontas ásperas que ela traz. Eu quero a barba e o sorriso.E a pele.Mas pra ter a pele, tenho que abdicar da barba.Merda, eu quero a barba.
Pratica arte pra mim?! Pratica que eu sou ruim de boca, ruim de ouvido, ruim de moça. Faz bem bonito, cheio de emoção. Coloca um casal florido e uma cereja em cima.Cola uma foto na parede, faz desenhos coloridos. Produz uma foto, pinta uma cena grega com luzes néon e gelo seco. Escreve sobre aqueles personagens fantásticos, fala sobre a mão azul deles, descreve a saia roxa da mocinha, faça ,em bom enquadramento, aquela pinta bem perto do olho que ela tem. Melhor! Faz isso tudo em mim! Me transforma em arte, me colore, dá-me magia! Nos pés você põe sapatinhos de rubi, na cabeça uma tiara azul e de vestido...pode ser vermelho! Escreve sobre mim, faz de mim um livro! Com começo,sem meio e fim! Me emoldura, me bota na parede! Chama os amigos, vamos! Venham admirá-la.Faz isso por mim, faz.Eu sou tão ruim de boca, tão ruim de ouvido, tão ruim de moça...